Nietzsche tem resistência a qualquer tipo
de valoração antecipadamente apresentada como certa ou errada.
Desenvolve uma suspeita em relação às verdades e valores morais
estabelecendo um trabalho de desmontagem desses pressupostos por meio de
estudos históricos e genealógicos. A possibilidade de um pensamento
mais livre seria uma reinvenção contínua de si mesmo, deixando para trás
qualquer tipo de segurança teórica mais perene. Por meio da noção do
espírito livre o autor rouba os sentimentos mais sublimes de seus
redutos, rouba os idealismos para descontruir seus fundamentos visando
fazer pensar.
Os espíritos livres podem ganhar e desenvolver tempos e espaços para
investigar as amarras metafísicas da formação humana. O espírito livre
não é livre para viver conforme sua própria referência, mas para aceitar
colocar em questão qualquer referência para continuar inventando e
pensando. Essa realidade não é o estabelecimento do terreno movediço,
sem qualquer estabilidade. Antes disso é o questionamento dos pontos
fixos e a necessidade de enfrentá-los. As estabilidades existem, são
históricas, contingenciais, mas sempre provisórias.
Seguindo propostas indicadas por Nietzsche, parece que hoje
deveríamos desencadear um processo no qual cada um possa “chegar a ser o
que é”. Implica a defesa no sentido de que cada indivíduo alcance sua
própria forma e identidade. Esse voltar-se para si mesmo é como diz o
autor, o “efeito da melhor arte e constitui, talvez, o núcleo e a
grandeza da experiência estética.” Esta é uma bela imagem da docência:
conduzir alguém até si mesmo, assim como é um desafio para quem aprende.
Aprender não significa repetir, tornar-se discípulo do outro, mas
encontrar sua própria forma depois da experiência obtida e vivenciada.
A ideia de formação indicada por Nietzsche implica uma “vontade de
potência”, que é uma atitude afirmativa diante da vida, que pode levar o
ser humano a uma máxima intensidade organizativa. Trata-se de ousar
como um artista ao produzir uma obra de arte, inventando e produzindo
uma forma nova de expressar conceitos, valores e convicções. A viagem de
formação não é uma viagem alienada, sem ritmo, mas um andar vibrante
que se fortalece por meio de diferentes sensibilidades.
Processos formativos não podem inserir-se na lógica da obediência e
da regulação. Ainda que em algum momento sejamos capturados por esse
cenário, é preciso estabelecer estratégias de resistência,
“desterritorializar” os princípios, as normas dos grandes mapas
educacionais, gerando brechas, alargando a estreiteza do olhar e das
práticas já concebidas. Como será que nos inventaríamos, afinal sempre
fomos inventados pelos outros?
O cuidado de si implica, portanto, esse cenário, bem como a relação
com o outro, que nos faz compreender a dimensão profissional como uma
prática de liberdade. A ética e a estética dos processos de formação
estão a exigir a reinvenção dos espaços públicos e políticos que jamais
deveriam esgotar-se em uma vontade de verdade. Talvez a questão hoje
exija sabedoria para administrar a dissonância, a diversidade de
práticas e projetos construindo outras práticas sociais.
Os estudos previstos no campo da filosofia da educação precisam
garantir a especificidade da filosofia que implica filosofar e não
definir dogmaticamente conteúdos, estratégias, técnicas e verdades. De
início é bom lembrar as primeiras indicações da filosofia, quais sejam:
suspender nossas ideias e opiniões imediatas, duvidar de nossas crenças,
virtudes, e indagar, problematizar e refletir sobre as questões
colocadas pela própria vida. Neste contorno teórico a pesquisa em
Nietzsche na linha de filosofia da educação tem priorizado:
a) Discutir o conceito de formação, buscando tocá-lo considerando a dimensão da tragédia, da estética e da experiência.
b) Refletir sobre o conceito de espírito livre em Nietzsche
c) Inserir a genealogia como conteúdo e método da filosofia da educação
d) Iniciar estudos que promovam interfaces entre Filosofia e literatura
Texto de: LÚCIA SCHNEIDER HARDT
A filosofia de Nietzsche é uma fonte riquíssima de pesquisa e reflexão, pois a educação foi um de seus objetos de estudo. A avaliação dos valores educacionais são fundamentais para concepções e conteúdos educacionais.
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